25 de abr. de 2011

Em que sentido são Deus e Cristo “um”?

“EU E o Pai somos um.” (João 10:30) Estas palavras, proferidas por Jesus Cristo, enfureceram seus conterrâneos. Achavam que sua declaração era blasfema e estavam prontos para apedrejá-lo. (João 10:31-33) Por quê? Havia Jesus Cristo afirmado que ele era o próprio Deus, igual a seu Pai?

O contexto em que as palavras de Jesus aparecem na narrativa bíblica revela o que ele queria dizer. Havia sido rodeado por um grupo de judeus, que exigiram que lhes dissesse se ele era realmente o Cristo.
Respondendo a eles, Jesus declarou: “Eu vos disse e não acreditais. As obras, que eu faço em nome de meu Pai, dão testemunho a meu respeito. Mas vós não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. Minhas ovelhas escutam minha voz. Eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna e elas jamais perecerão. Ninguém as arrebatará de minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.” — João 10:25-30, LincolnRamos.
UNIDADE, NÃO IGUALDADE
É evidente que Jesus Cristo não afirmava ser igual a seu Pai. Ele mesmo declarou que não agia em seu próprio nome, mas em ‘nome de seu Pai’. Reconhecia a superioridade da posição e autoridade de seu Pai, admitindo que as “ovelhas” lhe foram dadas pelo seu Pai. Disse especificamente que ‘o Pai é maior do que todos’. Ao mesmo tempo, Pai e Filho são “um” em propósito quanto à salvação das “ovelhas”. Quer dizer, ambos se preocupam igualmente com as “ovelhas”, não permitindo que ninguém as arrebate da mão deles.
Que Jesus não se referiu a uma igualdade de divindade, mas à unidade de propósito e ação é confirmado pela sua oração, registrada em João, capítulo 17. Jesus disse: “Tenho feito manifesto o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus e tu mos deste, e eles têm observado a tua palavra. Eles vieram agora a saber que todas as coisas que me deste são de ti . . . Faço solicitação, não a respeito do mundo, mas a respeito daqueles que me deste; porque são teus, e todas as minhas coisas são tuas e as tuas são minhas . . . Também, não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo e eu vou para ti. Santo Pai, vigia sobre eles por causa do teu próprio nome que me deste, para que sejam um, assim como nós somos.” — João 17:6-11.
Note que as idéias expressas por Jesus nesta oração são similares às suas palavras registradas em João, capítulo 10. No capítulo 17, Jesus novamente reconheceu que seus discípulos, suas “ovelhas”, lhe foram dados pelo Pai. De modo que a espécie de unidade mencionada em ambos estes capítulos é a mesma. À base da oração de Jesus, podemos ver que Jesus e seu Pai são “um” no mesmo sentido em que seus verdadeiros seguidores podem ser “um”. (João 17:11) É evidente que os fiéis discípulos de Jesus Cristo nunca poderiam tornar-se parte dum Deus trino. No entanto, poderiam ser um em propósito e atividade. Provando adicionalmente que Jesus nunca afirmou igualdade com seu Pai é que, na sua oração, ele se dirigiu ao seu Pai como o “único Deus verdadeiro” e chamou a si mesmo de “representante” de seu Pai — João 17:3, 8.
Mas alguém talvez objete, argumentando: ‘Quando Jesus disse que “Eu e o Pai somos um”, os judeus tomavam isto como significando que ele era Deus, e Jesus não negou isso.’ Mas, foi realmente assim? Por que não examina o relato?
A versão católica do Pontifício Instituto Bíblico reza: “Perguntou-lhes Jesus: ‘Tenho feito muitas obras boas diante de vós, pela força de meu Pai, por qual dessas obras me quereis apedrejar?’ Replicaram-lhe os judeus: ‘Não é por alguma boa obra que te queremos apedrejar, e sim por blasfêmia; é porque tu, sendo homem, te fazes Deus.’ Replicou-lhes Jesus: ‘Não está escrito na vossa lei: “Eu disse:  Vós sois deuses—”? Ora, se a lei chama deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode ser desmentida, como podeis vós dizer àquele a quem o Pai enviou ao mundo: “Tu blasfemas!” por ter eu dito: — Sou o Filho de Deus —? Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis em mim; se, porém, as faço, ainda que não creiais em mim, dai crédito às obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu estou no Pai.’” — João 10:32-38.
Então, por que chegaram os judeus sem fé à conclusão de que Jesus se fazia “Deus”? Evidentemente, porque Jesus atribuiu a si mesmo poderes que os judeus criam pertencer exclusivamente ao Pai. Por exemplo, Jesus disse que ele daria “vida eterna” às “ovelhas”. Isto era algo que nenhum homem podia fazer. No entanto, o que os judeus incrédulos desperceberam era que Jesus reconheceu ter recebido tudo de seu Pai, e que as boas obras que fazia provavam que era representante de seu Pai. Estavam errados em concluir que ele se constituía blasfemamente em Deus.
Que os judeus incrédulos raciocinavam de modo errado é também evidente em outros incidentes. Quando interrogado perante o Sinédrio, Jesus foi acusado falsamente de blasfêmia, não por afirmar ser ‘Deus Filho’, mas por afirmar ser o ‘Messias, o Filho do Deus vivente’. (Mat. 26:63-68; Luc. 22:66-71) Também numa ocasião anterior, certos judeus tiveram a idéia de que Jesus se fazia igual a Deus e quiseram matá-lo como blasfemador. João 5:18 nos diz sobre isso: “Os judeus começaram ainda mais a procurar matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também chamava a Deus de seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” Note que Jesus não disse que era o próprio Deus, mas que ele chamou a “Deus de seu próprio Pai”. Os conterrâneos incrédulos de Jesus, porém, objetavam a ele afirmar ter esta relação com seu Pai, esta Filiação especial. E assim como estavam errados em classificar Jesus como violador do sábado, também estavam errados na sua alegação de que Jesus se fazia igual a Deus, porque “chamava a Deus de seu próprio Pai”.
NÃO ETERNO IGUAL A SEU PAI
A unidade ou união que Jesus usufruía com seu Pai, naturalmente, era muito maior e mais grandiosa do que a usufruída em qualquer relação humana entre pai e filho. Mesmo já antes da criação do universo físico, o Pai e o Filho eram “um”.
Jesus disse aos judeus incrédulos, com respeito à sua existência pré-humana: “Antes de Abraão existir, eu sou.” (João 8:58, P. I. B.) Identificou-se Jesus ali como sendo Jeová? Não disse Deus a Moisés: “‘SOU AQUELE QUE SOU’”. E acrescentou: ‘Assim falarás aos filhos de Israel: “ — EU SOU mandou-me a vós”’”? (Êxo. 3:14, P. I. B.) Muitas traduções usam a expressão “eu sou” tanto em João 8:58 como em Êxodo 3:14. Mas, expressam ambos os textos a mesma idéia?
Não. Sabemos que não o fazem, porque, em Êxodo 3:14, a Versão dos Setentagrega (tradução muitas vezes citada pelos apóstolos no primeiro século E. C.) rezaego’ eimi’ ho Ohn’: “Eu sou o Ser.” Isto é bem diferente do uso simples das palavrasego’ eimi’ (eu sou) em João 8:58. O verbo eimi’, em João 8:58, evidentemente está no presente histórico, visto que Jesus falava sobre si mesmo em relação com o passado de Abraão. Numerosos tradutores indicam isso nas suas versões. Por exemplo, AnAmerican Translation reza: “Eu existi antes de Abraão nascer!” — Veja LincolnRamos.
Indicar Jesus sua existência pré-humana não devia ter surpreendido os judeus. Séculos antes, a profecia de Miquéias dissera a respeito do Messias: “Tu, Belém Efrata, pequena demais para chegar a estar entre os milhares de Judá, de ti me sairá aquele que há de tornar-se governante em Israel, cuja origem é desde os tempos primitivos, desde os dias do tempo indefinido.” (Miq. 5:2) Assim, embora Jesus existisse muito antes de Abraão, ele não era sem princípio. Dessemelhante de seu Pai, que é “de tempo indefinido a tempo indefinido”, fala-se do Filho como tendo “origem”. — Sal. 90:2.
O mero fato de Jesus ser chamado de “Filho de Deus” revela que ele foi produzido pelo Pai e que é, portanto, seu Filho primogênito e unigênito. O próprio Jesus disse: “Eu vivo por causa do Pai.” (João 6:57) Depois de ter chegado à existência, o Filho foi usado Para criar tudo. (João 1:1-3; Col. 1:15-17; Heb. 1:2) Como Filho primogênito, ele usufruiu intimidade especial com o Pai. Fala-se dele nas Escrituras como estando “na posição junto ao seio do Pai”. — João 1:18.
Jesus refletiu tão perfeitamente a imagem — a personalidade e os modos — de seu Pai, que pôde dizer a Filipe: “Quem me tem visto, tem visto também o Pai.” (João 14:9) É por isso que se pode chegar a conhecer a Deus apenas por intermédio do Filho. Conforme o expressou Jesus: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e quem o Filho é, ninguém sabe, exceto o Pai; e quem o Pai é, ninguém sabe exceto o Filho, e aquele a quem o Filho estiver disposto a revelá-lo.” — Luc. 10:22.
Quão grandiosa unidade existe entre Jeová Deus e seu Filho primogênito! Eles sempre são “um” em propósito e atividade. Mas, conforme as Escrituras mostram claramente, não são iguais. O Filho sempre reconhece a superioridade de seu Pai, sujeitando-se ao Pai como seu Deus e deleitando-se em fazer a vontade de seu Pai. “Aquele que me enviou”, disse Jesus, “está comigo; ele não me deixou só, porque faço sempre as coisas que lhe agradam”. (João 8:29; 1 Cor. 11:3) Jesus é assim deveras, não ‘Deus Filho’, nem a “segunda pessoa” dum Deus trino, mas o “Filho de Deus’. — João 20:31.
“Porque mediante [Jesusforam criadas todas as outras coisas noscéus e na terra, as coisas visíveis e as coisas invisíveis, quer sejamtronos, quer senhorios, quer governos, quer autoridades. Todas asoutras coisas foram criadas por intermédio dele e para ele. Também,ele é antes de todas as outras coisas e todas as outras coisas vieram aexistir por meio dele.”  Col. 1:16, 17.

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